A osteopatia é uma especialidade de saúde que trabalha em todo o sistema musculoesquelético, sistema nervoso central e visceral (ossos, músculos, articulações, fáscia, ligamentos, nervos e órgãos).
É baseada no conhecimento profundo de anatomia. Os Osteopatas conhecem a anatomia humana até aos seus mínimos detalhes.
Para o Osteopata entender, uma disfunção no intestino que provoque cólicas, tem de entender profundamente que artérias nutrem aquela zona, que nervos estão ali situados e de onde vêm. Também tem de entender todo o caminho que a artéria ou o nervo faz até chegar ali. Isto porque nestas estruturas podem ter tensões ou compressões que provocam aquela disfunção ou dor.
Por isso, não estranhes que numa consulta de Osteopatia Pediátrica, se o teu bebé tem cólicas ou obstipação o Osteopata mexer por exemplo no pescoço. Isso significa que os nervos que regulam essa zona vêm daí e a tensão pode estar localizada nesse sítio.
Isto torna-se simples de entender com a analogia a uma situação que certamente já todas as pessoas experienciaram: sentir o pé dormente depois de ter a perna cruzada. O sangue deixa de circular de forma eficaz e a sensação que o corpo dá é um formigueiro. Mesmo depois de libertarmos o bloqueio que impedia o sangue de circular, muitas vezes não conseguimos logo andar. Só quando o corpo retoma a sua normalidade e o sangue volta a circular livremente, sentimos o pé normal e recuperamos a sua função de andar e de suportar o peso do nosso corpo sem desconforto. Se deixássemos a perna cruzada durante vários dias seguidos, provavelmente teríamos consequências graves, porque aquela parte do corpo deixaria de ser oxigenada e nutrida pelo sangue. Os nervos que por ali passam, deixariam também de passar mensagens importantes do cérebro.
A Osteopatia faz igual, mas com situações mais profundas e complexas. Desbloqueia tensões ou desequilíbrios, para que o corpo consiga restabelecer o seu funcionamento ideal.
História e Origem da Osteopatia
A osteopatia foi fundada no final do século XIX pelo médico americano Andrew Taylor Still. Frustrado com as limitações da medicina convencional da época e depois da perda da sua mulher e dos seus três filhos devido a doenças que ele acreditava serem tratáveis. Andrew procurou uma abordagem alternativa e começou a estudar anatomia a fundo, e percebeu que várias doenças, problemáticas e dores seriam evitáveis se o sistema musculoesquelético e o sistema nervoso estivessem no seu pleno funcionamento, sem obstruções.
Em 1874, Andrew anunciou os princípios da osteopatia, enfatizando a inter-relação entre estrutura e função no corpo humano. Em 1892, fundou a primeira escola de osteopatia, a American School of Osteopathy, em Kirksville, Missouri, nos Estados Unidos, que ainda hoje existe.
Princípios Fundamentais da Osteopatia
A osteopatia baseia-se em quatro princípios fundamentais:
- Unidade do Corpo: O Osteopata não vê as partes dos corpos isoladas umas das outras. Se uma parte do corpo funciona mal por algum tipo de restrição, isto irá afetar as outras partes do corpo. Porque tudo está ligado através do sistema circulatório e através do sistema nervoso
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Lei da Artéria: “Quando o fluxo sanguíneo é livre, o corpo está num estado de saúde, e quando há impedimento no fluxo sanguíneo, o corpo entra num estado de doença.”
Esta lei enfatiza a importância da circulação sanguínea adequada para a saúde geral do corpo. A restrição ou obstrução no fluxo sanguíneo pode levar a doenças e disfunções. Ao remover essas obstruções através de técnicas de manipulação manual, o fluxo sanguíneo pode ser restaurado, promovendo a cura e o bem-estar geral.
Portanto, a prática osteopática busca garantir que o sangue possa circular livremente pelo corpo, fornecendo nutrientes essenciais, oxigénio, e removendo o que não interessa para as células, o que é crucial para a manutenção da saúde global do corpo.
- Estrutura e Função Interrelacionadas: A forma como o corpo é construído influencia o seu funcionamento e vice-versa.
- Autocura: O corpo tem mecanismos de autorregulação e autodefesa que, quando em equilíbrio, permitem a recuperação natural da saúde. (tal como no exemplo do pé dormente, assim que o soltamos, voltamos a conseguir andar sem recurso a mais nada)
O tratamento deve considerar o corpo como um todo, não apenas os sintomas específicos. Uma pessoa não é uma dor num braço, é importante olhar para todo o corpo para entender aquela dor ou aquela disfunção.
Em que Consiste a Osteopatia?
O tratamento osteopático envolve uma variedade de técnicas manuais, incluindo:
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- Manipulação das Articulações: Movimentação das articulações para melhorar a mobilidade e aliviar a dor.
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- Técnica dos Tecidos Moles: Mobilização dos músculos e tecidos moles para reduzir a tensão e melhorar a circulação.
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- Técnicas de Alongamento e Mobilização: Exercícios e movimentos para melhorar a amplitude de movimento e flexibilidade.
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- Tratamento Craniano: Técnicas suaves para melhorar o movimento dos ossos do crânio e tecidos circundantes.
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- Técnicas Viscerais: Mobilização dos órgãos internos para melhorar a função visceral, aliviar tensões e melhorar a circulação sanguínea e linfática nos órgãos abdominais.
Cada tratamento é personalizado, baseado na avaliação completa do paciente, que inclui a história médica, exame físico e, quando necessário, exames complementares.
Osteopatia e Conhecimento Anatómico
É importante sublinhar que a osteopatia não tem nada de esotérico. Ao contrário de algumas terapias alternativas que podem basear-se em conceitos mais abstratos ou metafísicos, a osteopatia é fundamentada no conhecimento científico puro de anatomia, fisiologia e biomecânica.
Os osteopatas são treinados de forma extensiva para compreender o corpo humano em detalhe: como os músculos, ossos, ligamentos e tecidos interagem, e como alterações nestas estruturas podem afetar a saúde geral. As técnicas utilizadas pelos osteopatas são baseadas em evidências e em princípios científicos, assegurando que cada intervenção é segura e eficaz.
Osteopatia Pediátrica
A osteopatia pediátrica é uma subespecialidade que se concentra no tratamento de bebés, crianças e adolescentes. Esta abordagem reconhece que os corpos em crescimento têm necessidades diferentes e respondem de maneira distinta às técnicas de tratamento.
Nos bebés, o tratamento osteopático é sempre feito com suavidade e sem manipulações, ou seja, não se estala o corpo dos bebés intencionalmente, como se faz com os adultos. Apenas são usadas suaves pressões e massagens nos pontos necessários para aliviar tensões, assim como alguns movimentos corporais, alongamentos e exercícios para libertar e mobilizar estruturas.
A Osteopatia valoriza uma abordagem preventiva, acompanhando o crescimento e desenvolvimento das crianças para garantir que eventuais desequilíbrios sejam identificados e corrigidos precocemente. Assim, a osteopatia pediátrica não só trata, mas também promove a saúde integral da criança, contribuindo para um crescimento harmonioso e saudável.
Benefícios da Osteopatia Pediátrica
Os osteopatas pediátricos utilizam técnicas suaves e não invasivas para ajudar no desenvolvimento saudável das crianças e no alívio de várias condições, tais como:
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- Torcicolo: O torcicolo é uma condição comum em bebés e crianças, caracterizada por uma inclinação ou rotação da cabeça, devido à tensão ou encurtamento dos músculos do pescoço. Os osteopatas podem utilizar técnicas de manipulação suave para relaxar os músculos tensos e melhorar a mobilidade do pescoço, aliviando a dor e corrigindo a postura da cabeça.
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- Problemas Digestivos: A Osteopatia é essencial para ajudar a aliviar cólicas, refluxo e obstipação.
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- Problemas de Sono e Choro Inconsolável: A osteopatia pode ajudar a melhorar o sono e os níveis de irritabilidade do bebé, tratando tensões e desconfortos que podem interferir no sono do bebé.
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- Problemas de Alimentação e Dificuldade na Amamentação: Tratamentos osteopáticos podem auxiliar na melhora da sucção e deglutição em bebés com dificuldades de alimentação.
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- Desenvolvimento Motor: A osteopatia pode apoiar o desenvolvimento motor, ajudando crianças que apresentem atraso no desenvolvimento ou dificuldades motoras.
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- Problemas Respiratórios: Técnicas específicas podem ajudar a melhorar a função respiratória e aliviar sintomas de condições como asma e bronquite.
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- Alterações no Crânio: A osteopatia pode auxiliar no tratamento das alterações no crânio como plagiocefalia, braquicefalia e escafocefalia.
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- Desvios Posturais: Correção de posturas inadequadas que podem levar a problemas musculares e esqueléticos a longo prazo.
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- Luxação do Rádio (Trauma no Osso do Antebraço): Técnicas específicas para realinhar e tratar lesões no antebraço.
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- Bebés Rígidos: Tratamento de bebés que apresentam pouca mobilidade ou rigidez nas articulações, ajudando-os a desenvolver uma melhor mobilidade.
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- Assimetria nos Olhos: Correção de problemas como um olho mais fechado que o outro, que podem ser resultado de alterações cranianas.
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- Bruxismo (Ranger os Dentes): Técnicas para aliviar a tensão temporo-mandibular, que causa o ranger dos dentes.
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- Escoliose: Tratamento de curvaturas anormais na coluna vertebral para melhorar a postura e reduzir desconforto.
- Otites e Bronquiolites Frequentes: Técnicas osteopáticas podem ajudar a melhorar a drenagem dos seios nasais e aliviar sintomas de infeções frequentes.
Formação e Requisitos para Ser Osteopata em Portugal
Desde 2013, que o curso de osteopatia é reconhecida como profissão e como uma licenciatura em Portugal. Para se tornar osteopata, é necessário completar uma formação superior em osteopatia, que geralmente dura quatro a cinco anos e inclui tanto componentes teóricos quanto práticos.
Estrutura do Curso
Os cursos de licenciatura em osteopatia cobrem uma ampla gama de disciplinas, incluindo:
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- Anatomia e Fisiologia
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- Biomecânica
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- Patologia
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- Técnicas de Diagnóstico
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- Técnicas de Tratamento Osteopático
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- Saúde Pública e Ética Profissional
Além das aulas teóricas, os estudantes participam de estágios clínicos supervisionados, onde adquirem experiência prática no diagnóstico e tratamento de pacientes.
Reconhecimento e Regulamentação
Os osteopatas têm de obter uma cédula profissional emitida pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) para poder exercer legalmente. Além disso, devem estar registados na Entidade Reguladora da Saúde (ERS), que é responsável por garantir a qualidade e segurança dos serviços prestados pelos profissionais de saúde.
Conclusão
A osteopatia é uma abordagem terapêutica que busca sempre restaurar o equilíbrio natural do corpo para promover a saúde. Com raízes que remontam ao século XIX, a osteopatia evoluiu para incluir especialidades como a osteopatia pediátrica, que oferece benefícios significativos para a saúde e bem-estar das crianças. Em Portugal, a osteopatia é uma profissão regulamentada que exige uma formação universitária rigorosa e o cumprimento de requisitos legais específicos, garantindo que os profissionais estejam bem preparados para oferecer cuidados de alta qualidade. Longe de ser esotérica, a osteopatia é fundamentada no conhecimento anatómico e fisiológico detalhado, assegurando tratamentos baseados em evidências científicas.